quarta-feira, 6 de maio de 2015

Oscar Mascarenhas (1949 - 2015)


(foto DN)

Lisboa, 06 mai (Lusa) – O jornalista Óscar Mascarenhas, que trabalhou muitos anos no Diário de Notícias e na agência Lusa, morreu hoje, aos 65 anos, em Lisboa, vítima de ataque cardíaco, informou fonte ligada à família.

De acordo com a mesma fonte, Óscar Mascarenhas sentiu-se mal hoje de manhã e ainda foi assistido por uma equipa do INEM- Instituto Nacional de Emergência Médica.

Óscar José Mascarenhas nasceu a 09 de dezembro de 1949.

Natural de Goa, India, começou a trabalhar como jornalista em 1975, no diário A Capital, passando em 1982 para o Diário de Notícias, jornal onde fez grande parte da sua carreira, até sair em 2002.

No ano seguinte, em 2003, integrou os quadros da Lusa - Agência de Notícias de Portugal, SA, como assessor da administração então presidida pelo jornalista Luís Delgado, ficando com o pelouro, entre outras funções, do relacionamento com as agências noticiosa e organismos internacionais com que a Lusa tinha cooperação.

Mais tarde, em setembro de 2005, passou para a redação da Lusa como editor e integrou depois, em 2007, o turno da madrugada, função que desempenhou até passar à pré-reforma, em 2009.

Em 2012, voltou ao Diário de Notícias, onde abraçou o cargo de Provedor do Leitor, funções que deixou no final de 2014.

Óscar Mascarenhas foi ainda presidente do Conselho Deontológico (CD) do Sindicato dos Jornalistas durante oito anos, ocupando atualmente o cargo de vogal do CD, órgão sindical presidido pela jornalista São José Almeida.

Como jornalista, relatou momentos históricos, como a cerimónia da independência da Cabo Verde, em 1975, os Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984, ou ainda as primeiras eleições livres na RDA, em 1990, após a queda do Muro de Berlim.

Em 1985, o Clube Português de Imprensa distinguiu-o como o Premio Reportagem, e, um ano depois, o Premio de Viagem.

Depoimentos recolhidos 'pela Lusa:

A presidente do Sindicato dos Jornalista destacou hoje a “forte personalidade” do jornalista Oscar Mascarenhas, que morreu hoje de manhã, vítima de ataque cardíaco, sublinhando que irá “fazer falta o espírito crítico” ao jornalismo português.

Em declarações à agência Lusa, Sofia Branco disse ter sido "com surpresa” que recebeu a notícia da morte de Oscar Mascarenhas, adiantando que, na terça-feira, estiveram a trocar emails para uma posição conjunta entre a direção do Sindicato de Jornalistas e o Conselho Deontológico sobre a lei da cobertura das eleições.

“O Oscar participou imenso e contribuiu muito para o texto que hoje vai ser publicado, como era aliás da sua natureza. Participava imenso nas coisas em que se metia, de uma forma muito vincada, tinha um feitio muito particular, uma personalidade muito forte, não deixava de lado as suas ideias por nada, batia-se por elas até ao fim”, destacou Sofia Branco.

A presidente do Sindicato lembrou ainda que, apesar de não partilhar das mesmas ideias e opiniões de Oscar Mascarenhas, gostava da forma como este encarava o jornalismo e considerou que vai fazer falta alguém com “aquele tipo de espirito, numa altura em que é tudo muito mais neutro, muito mais do mesmo”.

“Acho que era uma pessoa que gostava muito de discussão e isso é interessante nos dias de hoje, porque se discute muito pouco, e provocava, e isso também é preciso e faz falta”, frisou.

Sofia Branco lembrou ainda que o estilo provocador de Oscar Mascarenhas, sublinhando que tal característica “tornava-o numa personalidade que vai fazer falta”.

“Era muito crítico do jornalismo que se faz. Aliás, como provedor [do leitor, do Diário de Notícias], são conhecidos vários textos que geraram alguma polémica, mas acho que é interessante, concordando ou não com ele”, considerou.

[...]

O comentador político Luís Delgado lamentou hoje a morte do jornalista Oscar Mascarenhas, aos 65 anos, vítima de ataque cardíaco, considerando que o “jornalismo ficou mais pobre”.

“O jornalismo fica verdadeiramente mais pobre sem Oscar Mascarenhas. Ele era um pilar do ponto de vista do funcionamento íntegro do jornalismo em Portugal e era uma referência. Fica mesmo mais pobre, não é uma frase feita”, disse o ex-administrador da agência Lusa.

Luís Delgado relatou à Lusa que conheceu Oscar Mascarenhas “há muitos anos”, tendo inclusive trabalhado com ele no Diário de Notícias, local onde se conheceram.

“Conheci-o no DN. Sempre o considerei um jornalista excecional do ponto de vista de capacidade, do interessa e do empenho na profissão”, sublinhou.

Na opinião do jornalista Luís Delgado, Oscar Mascarenhas era “extraordinariamente ético do ponto de vista da separação muito vincada daquilo que são os poderes e os direitos e as capacidades” dos jornalistas.

Luís Delgado recordou à Lusa que durante os anos em que trabalharam juntos recorreu muitas vezes à ajuda de Oscar Mascarenhas.

“Era muito empenhado e disponível para ajudar as pessoas. Sempre que nós precisávamos de alguma coisa, se tínhamos dúvidas sobre algo recorríamos ao Oscar. Perdeu-se uma pessoa muito importante, que nos orientava”, frisou.

O também comentador político Luís Delgado disse ainda que, “acima de tudo, Oscar Mascarenhas era um recipiente do melhor que os jornalistas podem desempenhar na sua profissão.

“Era também um estímulo para todos os nós, pela sua capacidade de escrita e pela forma como escrevia, como grande repórter, como analista, como jornalista, concluiu.

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O ex-presidente da agência Lusa José Manuel Barroso lamentou hoje a morte de Oscar Mascarenhas, considerando que este era um jornalista dedicado às questões da ética e da deontologia dos jornalistas, “empenhado e atento ao mundo”.

“Era um jornalista que vivia muito a profissão no que diz respeito às questões de ética e deontologia dos jornalistas. Tinha uma grande atividade em torno dessas matérias, participando em inúmeras conferências e debates sobre o jornalismo”, relatou à Lusa José Manuel Barroso, que trabalhou com Oscar Mascarenhas no Diário de Notícias e na agência Lusa.

De acordo com o antigo presidente do Conselho de Administração da Lusa, Oscar Mascarenhas teve um percurso que o levou a aproximar-se cada vez mais da essência do jornalismo.

“Era muito preocupado com o modo como os jornalistas desempenhavam a profissão. Era também muito interessado pelas questões políticas internacionais (…). Tinha uma visão muito própria das coisas e dos acontecimentos e, por esse prisma, foi sempre um jornalista empenhado e atento ao mundo”, disse.

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A jornalista Diana Andringa lembrou hoje a “camaradagem imensa” e o “crítico muito importante” que foi Oscar Mascarenhas, falecido esta manhã, vítima de ataque cardíaco, confessando não saber agora com que irá discutir as questões éticas e deontológicas.

“Estas coisas deviam ser proibidas. Pessoas como o Oscar deviam ser proibidas de morrer, porque agora com quem vamos ter discussões o dia todo, quem é que vai levantar as questões éticas e deontológicas com o humor extremamente mordaz e de uma violência, quase assassina, mas que sabemos que é feita com uma amizade e camaradagem imensa”, questionou Diana Andringa, em declarações à agência Lusa.

A antiga presidente do Sindicato dos Jornalistas frisou ainda que, além de Oscar Mascarenhas ser um “grande camarada” como jornalista, foi também um “grande camarada e amigo” quando estava na direção do sindicato e foi presidente do Conselho Deontológico do Sindicato.

“Tivemos discussões muito vivas e interessantes. Era sempre entusiasmante para a inteligência discutir com o Oscar”, frisou Diana Andringa, lembrado que este teve um "papel extraordinário” como provedor no Diário de Notícias.

Diana Andringa lembrou ainda o sentido de humor “absolutamente fabuloso” de Oscar Mascarenhas, além do facto de ser “uma pessoa que resmungava muito, mas que tinha um coração de oiro”.

“É um excelente amigo que se perde. Um crítico muito importante, a quem eu costumava dar como recado, além de um ‘Viva a Liberdade’, com que nos despedíamos, também um ‘Não se te cansem as mãozinhas Oscar’, porque há muita gente a precisar das críticas de Oscar. Ele vai fazer muita falta, nenhum de nos é insubstituível, eu sei, mas há pessoas que fazem mais faltas que outras”, precisou.

[...]

O secretário-geral do PS, António Costa, transmitiu hoje condolências em seu nome e do partido pela morte de Óscar Mascarenhas, que refere ter sido um jornalista considerado e respeitado ao longo das últimas décadas.

"Em meu nome pessoal e em nome do Partido Socialista manifesto as mais sentidas condolências pelo falecimento de Óscar Mascarenhas, um grande jornalista que todos nos habituámos a considerar e respeitar ao longo das últimas décadas”, lê-se numa nota publicada na página da internet do partido e assinada por António Costa.

O líder socialista refere ainda ter tido a oportunidade de conhecer o também antigo provedor do leitor do jornal Diário de Notícias, sendo “testemunha da qualidade e da seriedade que sempre colocou ao serviço da sua grande causa, o jornalismo de referência em Portugal”.

“Neste momento de perda e de dor, manifesto a minha profunda solidariedade à sua família, aos seus amigos e aos seus camaradas de causa”, concluiu Costa.


A direcção da AAFDL (Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa) (70? 71?) não homologada pelo então ministro da Educação, Veiga Simão. (Espólio Luís Pinheiro de Almeida)

Artigo assinado por José Pedro Castanheira, no Expresso:


Antigo presidente do Conselho Deontológico dos jornalistas portugueses, Oscar Mascarenhas faleceu na manhã de dia 6 de maio, vítima de um fulminante ataque cardíaco. Provedor do Leitor do “Diário de Notícias” até ao final do ano passado, tinha 65 anos. Casado com a também jornalista Natal Vaz, deixa uma filha.

Professor na Escola Superior de Comunicação Social de Lisboa, ainda deu aulas na segunda-feira, mas na terça, sentindo-se mal, preferiu ficar em casa. Membro do Conselho Deontológico dos jornalistas portugueses (para o qual fora eleito no ano passado), na noite de dia 5 trocou emails com a presidente do Sindicato dos Jornalistas, Sofia Branco, a propósito da legislação relativa à cobertura mediática das campanhas eleitorais.

Um email com uma lista de jornalistas imortais

Na manhã seguinte, como era seu hábito, sentou-se ao computador. Tinha aprazado um almoço com um grupo de pessoas ligadas ao jornalismo, destinado a discutir uma lista de nomes para um futuro panteão criado no âmbito do Museu das Notícias, a ser inaugurado no próximo ano em Sintra. Completavam o grupo os jornalistas Adelino Gomes e Alexandre Manuel, e Luís Paixão Martins, o proprietário da agência de comunicação com o seu nome e principal “motor” do referido museu. Foi para esse pequeno “comité” que Mascarenhas terá enviado o seu último email (eram 7h44 horas), com uma lista anexa de 32 nomes de jornalistas “imortais”, e que vão desde Camilo Castelo Branco e Eça de Queirós, a Manuel António Pina e Carlos Pinto Coelho.

Pouco depois, sentindo-se mal, foi chamada uma ambulância, para a qual subiu ainda pelo seu pé. Foi já no interior do veículo do INEM que teve um ataque cardíaco fulminante, que lhe provocou uma paragem cardiorrespiratória, de que não recuperou.

De Goa à Faculdade de Direito de Lisboa Oscar José Mascarenhas nasceu a 9 de dezembro de 1949 na freguesia de Ribandar, em Goa, um dos territórios que faziam parte do então Estado Português da Índia. Veio para Portugal em 1957, antes ainda da invasão de Goa, Damão e Diu pela União Indiana.

Fez o ensino secundário na Externato Frei Luís de Sousa (em Almada) e no Liceu Gil Vicente (em Lisboa). Neste último estabelecimento, foi colega de Carlos Cáceres Monteiro, Luís Almeida Martins e João Vaz – um quarteto de futuros jornalistas que haveriam de trabalhar em conjunto no vespertino “A Capital”.

Frequentou depois, e durante três anos, a Faculdade de Direito de Lisboa, tendo sido colega, para além de Cáceres Monteiro, de Marcelo Rebelo de Sousa, Leonor Beleza, do franciscano Vítor Melícias e do também jornalista Luís Pinheiro de Almeida, bem como de Carlos Veiga, futuro primeiro-ministro de Cabo Verde. Na faculdade, fez parte da lista candidata à Associação de Estudantes que se apresentou sob o lema “Ousar Lutar, Ousar vencer”, liderada por Arnaldo de Matos, que viria a ser o secretário-geral do MRPP.

Interrompeu o curso de Direito e alistou-se como voluntário na Força Aérea Portuguesa, tendo sido colocado nos Açores.

De “A Capital” à Lusa, passando pelo “Diário de Notícias” Entrou na profissão a 2 de janeiro de 1975, no vespertino “A Capital”, dia em que conheceu a sua futura mulher, Natal Vaz, que entrara para o jornal no verão anterior. Militante do Movimento de Esquerda Socialista (MES) – o único partido a que pertenceu -, colaborou no seu jornal, “Poder Popular”. Já em 1976, pertenceu à redação do semanário “Página Um”, que apoiou a candidatura de Otelo Saraiva de Carvalho às eleições presidenciais. Era um jornal por onde passaram jornalistas como Fernando de Sousa, Henrique Garcia, Artur Albarran e João Vaz, o cartoonista Vasco, o pintor Leonel Moura e o jurista Francisco Teixeira da Mota.

Em 1982 trocou “A Capital” pelo "Diário de Notícias", onde trabalhou durante dois períodos: 1982-2002 (como repórter e redator principal) e 2012-2014 (como provedor do leitor). Trabalhou ainda no “Jornal do Fundão” e na agência Lusa (entre 2003 e 2009, altura em que passou à situação de pré-reforma, em que ainda se encontrava).

Dois livros na forja

Tirou o primeiro curso de pós-graduação em jornalismo, promovido pelo ISCTE e pela Escola Superior de Comunicação Social. Seguiu-se o mestrado e admitira recentemente avançar para o doutoramento, em Ciências da Comunicação, ainda pelo ISCTE.

Foi durante várias décadas dirigente do Sindicato dos Jornalistas, tendo presidido ao Conselho Deontológico durante oito anos. Fez parte igualmente da Comissão da Carteira Profissional dos Jornalistas.

Publicara dois livros: “O Poder Corporativo Contra a Informação” (2001, Minerva Coimbra) e “Nuvem de Chumbo. O Processo Casa Pia na Imprensa” (com Nuno Ivo, 2004, Dom Quixote). Deixou em fase de publicação a tese de mestrado, a que dera o título sugestivo de “O Detetive historiador. O jornalismo de investigação e a sua ética”, bem como um livro com uma vasta seleção de citações.

O corpo de Oscar Mascarenhas vai às 15h desta quinta-feira, 7, para a capela mortuária da Igreja de São João de Deus (à Praça de Londres). Será cremado às 12h de sexta-feira, no cemitério do Alto de São João.

32 nomes para o Panteão de Jornalistas

Segue-se a publicação da sua proposta de 32 nomes para o futuro Panteão de jornalistas, com algumas anotações que fez:

Adolfo Simões Müller – jornalismo didático
António Paulouro – jornalismo regional
Artur Agostinho
Augusto de Castro – direção e editorialismo
Camilo Castelo Branco – folhetinismo
Cândido de Oliveira – jornalismo desportivo
Carlos Pinhão
Carlos Pinto Coelho – jornalismo cultural televisivo
Eça de Queiroz – crónica de viagem
Eduardo Coelho – pioneiro do noticiarismo e novas tecnologias
Fernando Assis Pacheco
Fernando Pessa – jornalismo radiofónico e televisivo
Fialho de Almeida – jornalismo de crítica de costumes
Joshua Benoliel – fotografia
Leitão de Barros – jornalismo da nota do dia, “Os Corvos”
Manuel António Pina
Maria Lamas – jornalismo no feminino
Mário Castrim – jornalismo para jovens e pioneiro da crítica de televisão
Mons. Moreira das Neves – jornalismo religioso
Norberto de Araújo – olisipógrafo
Norberto Lopes – repórter de guerra e entrevistador
Rafael Bordalo Pinheiro – caricaturista
Ramalho Ortigão – polemista
Raul Proença – fundador da “Seara Nova” e criador do “Guia de Portugal”
Raul Rego – jornalismo oposicionista
Reynaldo Ferreira – “Repórter X”
Roby Amorim – jornalismo enciclopédico
Rodrigues Sampaio – jornalismo político
Sousa Veloso – jornalismo televisivo de divulgação da agricultura
Stuart Carvalhais – cartoon
Vera Lagoa
Vítor Direito – jornalismo popular